sexta-feira, 9 de maio de 2008

Fotografando HAVANA

David Bailey também não conseguiu fotografar Castro, nem o balé nacional, ou o circo. Havana, o magnífico registro de 2005, é para o veterano fotógrafo inglês apenas uma impressão rápida sobre um lugar único.
Como nós, quase dois milhões e meio de turistas visitaram Cuba em 2007, num momento especial da história. Fidel Castro tinha se afastado em julho de 2006, após delicada intervenção cirúrgica.
As notícias sobre o estado de saúde do Comandante eram contraditórias e preocupantes. Seu irmão Raul assegurava a interinidade. Os dois exíguos jornais e as quatro estações de televisão do governo não ajudavam a entender a situação. Havia ansiedade nas ruas.
O fim da era de Fidel só ocorreria um ano mais tarde, em fevereiro de 2008, com a renúncia à Presidência. Agora, a cada dia ou semana são anunciadas mudanças que poderão dar nova feição à ilha.
Nosso registro fotográfico mostra Havana e seus arredores em fevereiro de 2007, antes portanto do desencadear das transformações. Captamos o panorama do fim de um conturbado período de meio século, iniciado com a entrada triunfal de Fidel em Havana em janeiro de 1959.
Ninguém sabe ainda se as reformas são mesmo para valer, ou só uma plástica para dar um ar mais moderno ao sistema. De todo modo, nosso registro é do antes, do momento em que esperar parecia ser a única alternativa.
Percorremos parte dessa “ilha extensa, bonita e desditosa” de que falava Hemingway, já em 1935. Percebemos a mistura, familiar para nós, de sangue índio, europeu, africano e chinês. Visitamos o magnífico patrimônio colonial, poupado pela estagnação e pronto para restauro. Percebemos as dificuldades do dia a dia, as carências dos moradores, alguns anseios. Mas também sua hospitalidade e alegria.
Para penetrar nos mistérios, mais do que os jornais é preciso ler os escritores malditos, começando por Pedro Juan Gutiérrez. E ver os filmes, e olhar para o que os artistas têm podido produzir e mostrar.
Mais que o espanhol, a música é idioma oficial, e esse nós também sabemos.
Nossa impressão também é rápida, superficial, apressada. Assim é a fotografia, trabalha com frações de segundo para tentar eternizar um momento, às vezes toda uma história. Profundas são só as imagens que a luz e as sombras do lugar gravam para sempre em nossa lembrança (Eduardo Muylaert).

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