segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Alguém (não me perguntem quem, pois não me lembro) disse que a velhice é um momento de graça entre a vida e a morte. Acho que assim deve ser para quem teve o dom de amadurecer e chega aos sessenta anos sem problemas de saúde e livre da ansiedade que, durante a infância e a vida adulta, nos força a mil e um malabarismos para ganhar o amor dos outros.

Digo sessenta, porque é essa a idade a partir da qual a lei em S. Paulo nos permite furar as filas do correio, do cinema ou do banco, para gozar de atendimento prioritário. Mas sessenta é um número arbitrário. Há quem alcance sua liberdade antes disso, quem a conheça depois dos oitenta e quem nunca descubra a alegria de se sentir dono de si mesmo, livre das amarras artificiais que nos impedem de olhar de frente esta coisa indecifrável e breve que é a vida.

(Estado de S.Paulo, 12/05/2008, Eliana Cardoso, MULHER NO ESPELHO)

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