quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Apresentando AMYR KLINK

AMYR KLYNK no PARATY EM FOCO 2010

Que estranhos desígnios movem o ser humano no curto tempo planetário que medeia entre o nascimento e a morte?

A proximidade do porto e a atração do mar atuam como poderoso estímulo para a imaginação sobre a vida marítima e as viagens a terras distantes.

A constatação se refere a Júlio Verne, que morreu em 1905 com 77 anos. Mais do que ficção científica, é de antecipação a obra do autor de A Viagem em Balão, 20 Mil Léguas Submarinas, Da Terra à Lua, que descrevia coordenadas geográficas, culturas e animais exóticos, sem nunca ter feito a viagem.

Era tudo imaginação desse amigo do fotógrafo Felix Nadar que, esse sim, adorava voar em balão. Verne teve a inteligência de fugir de uma carreira de advogado para cumprir seu destino de escritor. Para tentar disciplinar o filho rebelde de 16 anos, colocou-o numa viagem de navio por 18 meses. Não adiantou nada.

50 anos depois da morte do escritor francês, surge outro filho rebelde. Amyr Klink, nascido em 1955, hoje com 55 anos, ao contrário de Júlio Verne, primeiro viajou, depois escreveu.

Num pais carente de heróis, Amir é um exemplo lido e cultuado nas escolas e por aqueles que gostam de olhar mais longe. Nesse mundo assustado com a mediocridade da política, a invasão da sujeira e a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, as viagens de Amyr Klink sugerem e apontam alguns caminhos.

Na nossa confraria de fotógrafos, o herói por excelência é Robert Capa que, como tantos outros, correu o risco de ir cobrir a guerra. Sobreviveu ao fogo alemão, no desembarque aliado na Normandia e seduziu algumas das mulheres mais bonitas do mundo. Capa dizia que se a foto não ficou boa é porque o fotografo não chegara suficientemente perto. Acabou morrendo em 1954, ao pisar numa mina.

Já Amyr Klink parte em busca da paz. Sua única guerra é contra as intempéries, a fúria dos elementos, a dificuldade de conseguir recursos, o conformismo e a mediocridade.

Esse herói moderno reflete a luta contra os nossos próprios fantasmas: o medo de não sair do lugar, o isolamento, a solidão, o naufrágio marítimo ou a frustração existencial.

Amyr canta, com igual intensidade, o amor da vida e a necessidade de levá-la a cabo com coragem e determinação, invocando na epígrafe do seu Linha d’Água o Canto I, 106, dos Lusíadas de Camões:

No mar tanta tormenta e tanto dano,

Tantas vezes a morte apercebida;

Na terra tanta guerra, tanto engano,

Tanta necessidade aborrecida!

Onde pode acolher-se um fraco humano,

Onde terá segura a curta vida,

Que não se arme e se indigne o Céu sereno

Contra um bicho da terra tão pequeno?



Apresentação de Eduardo Muylaert

Paraty, setembro de 2010.