quarta-feira, 4 de junho de 2008

Papo surreal

Um homem e uma mulher transam. Em que medida o homem percebe se a mulher gozou? A pergunta é de André Breton, dirigida a Ives Tanguy. O pintor e ex-marinheiro se incomoda, porque eu primeiro? Relê a questão, talvez para ganhar tempo, e sai pela tangente: numa medida muito frágil.

O mestre do surrealismo quer saber se Tanguy tem modos objetivos de avaliação. A resposta é sim, mas os tais métodos não são revelados.

Raymond Queneau, poeta e escritor, acha que não há como saber se a mulher gozou ou não. Para Jacques Prévert, depende da mulher. Indagado sobre meios objetivos de avaliação, o poeta e compositor responde com quatro sonoros sim, sim, sim, sim. Mas também não esclarece quais são esses métodos.

Benjamin Péret acredita que não há modo objetivo de saber se a mulher gozou. Breton então expõe sua teoria. Só há métodos subjetivos, nos quais se pode confiar na medida em que se tenha confiança na mulher envolvida.

A conversa ocorreu no dia 27 de janeiro de 1928 e foi publicada no numero 11 da revista Revolução Surrealista, de 15 de março de 1928.

O grupo liderado por André Breton organizou doze sessões de discussões livres, denominadas Pesquisas sobre a Sexualidade, entre janeiro de 1928 e agosto de 1932. A íntegra dos diálogos foi publicada pela Gallimard, em 1990. O organizador, José Pierre, anota que é um texto quase teatral, escrito e dirigido por André Breton, então com 32 anos.

Antonin Artaud veio uma vez, assim como Max Ernst. Paul Éluard cinco. Outros como Buñuel, Dali, René Char e Alberto Giacometti, embora bastante interessados nas questões do amor e da sexualidade, não apareceram. Foram 40 personagens ao todo, poucas mulheres.

A segunda sessão, em 31 de janeiro de 1928, contou com Aragon e Man Ray. Este, a certa altura, retomou a discussão seminal. Segundo o fotógrafo, a mulher sente necessariamente o momento exato do gozo do homem. Mas o homem só tem como referência a constatação da lassitude da mulher.

E se essa lassitude é simulada, pergunta Breton?

Pior para a mulher, diz Man Ray. Eu aceito seu jogo.

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